E nas nossas cidades? Há algum patrimônio ambiental que mereça/precise ser tombado?
Serra que
emoldura Tiradentes será tombada como patrimônio
Reconhecimento deve garantir proteção contra crimes
ambientais, como pastagem e corte de árvores
Por
Tatiana Lagôa
15/12/19
- 10h47 (Jornal O TEMPO)
Foto: Flávio Tavares
Bandeirantes paulistas descobriram a serra no século XVII e,
interessados em explorar seus recursos minerais, deram origem ao povoado que
hoje é a cidade de Tiradentes, no Campo das Vertentes
Nas
últimas décadas do século XVII, bandeirantes paulistas avistaram de longe um
pico, de onde poderiam avaliar a região na qual queriam explorar ouro. Ao
subirem, eles tiveram a visão de uma terra farta em pedras preciosas e recursos
minerais e decidiram se instalar na área. Foi aí que teve início a povoação de
Santo Antônio do Rio das Mortes, atual Tiradentes, no Campo das Vertentes. Mais
de 300 anos depois, o elevado que deu origem à cidade – hoje chamado de serra
de São José – emoldura o centro histórico do município e está em vias de ser
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
As
tratativas para o tombamento começaram em 1979, a pedido do Instituto Histórico
e Geográfico de Tiradentes (IHGT), mas estavam paradas desde então. Somente em
agosto deste ano é que o Iphan retomou o processo. A expectativa é que até 2021
o reconhecimento federal seja concluído.
O
processo é aguardado com ansiedade pela população, segundo o presidente do
IHGT, Rogério de Almeida. “Estamos falando de uma área com grande
biodiversidade, que precisa ser protegida e receber investimentos para
conservação”, diz.
Segundo o
secretário municipal de Cultura e Turismo, Henrique Rohrmann, é urgente uma
proteção maior à serra, que vem sendo vítima de crimes ambientais, como
incêndios e exploração irregular de plantas nativas para comercialização,
especialmente orquídeas e bromélias.
Há uso da
área para pastagem clandestina de animais, corte de árvores nativas para cercas
e realização de trilhas por motoqueiros com a consequente destruição de
caminhos históricos. Um exemplo de patrimônio ameaçado é a chamada “Calçada dos
Escravos”, construída por escravos no século XVIII. Este era o caminho por onde
se desviava ouro para não se pagarem os impostos à Coroa portuguesa.
Boom
Um
possível avanço da mineração e um boom imobiliário em uma área protegida ao
redor da serra também amedrontam os moradores. “Uma mineradora já atua lá
perto, mas está com a concessão vencendo. Não podemos abrir espaço para
outras”, afirma Rohrmann.
Antes
mesmo da conclusão do processo de tombamento, as irregularidades já estão no
radar do Iphan, segundo a chefe do escritório técnico em Tiradentes, Camila
Tangerino. “A gente já discute com o pessoal do IEF (Instituto Estadual de
Florestas) a possibilidade de haver um controle no acesso à serra. Já sabemos
da necessidade de ter ponto de recepção e até orientação em relação à
conservação para quem for fazer trilha”, afirma.
Esta não
é a primeira iniciativa de preservação. Há 30 anos, a serra se tornou uma Área
de Preservação Ambiental (APA) e, desde 2004, tem uma área considerada Refúgio
de Vida Silvestre (Revs) de libélulas, o que garante proteção do Estado.
Segundo o gerente da APA, Itamar Christófaro Silva, por essa razão, 15 pessoas
ficam por conta da gestão do local. “Se não fosse a criação da APA, a serra
estaria praticamente toda alterada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário